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Quarto dia - Vinícola Salton e Faria Lemos

  Continuando a nossa viagem, o sábado amanheceu sem chuva. Isto me trouxe um certo alívio pois, no domingo, teríamos uma programação diferente mas que seria impossibilitada caso a chuva não desse uma trégua. Nossa programação para a manhã de sábado seria na vinícola Salton, em um roteiro especial que incluía a visitação seguida de uma degustação harmonizada de espumantes.
  A vinícola é muito grande e a visitação é feita por passarelas de metal que percorrem toda a área de produção, nos dando uma visão panorâmica de toda a vinícola. Além disso, também visitamos as caves subterrâneas e o guia nos explicou o passo a passo da produção e do armazenamento, além de nos contar a história da vinícola na Galeria dos 100 anos, onde são retratados os 100 primeiros anos de trajetória da família e da vinícola.






  Para a degustação harmonizada, foram selecionados sete espumantes. Iniciamos com um Salton Brut Prosecco 2017, um espumante leve, com aromas e sabores cítricos e ótima acidez, harmonizado com Tomatinho Cereja Recheado com Mussarela de Búfala e Manjericão. A leveza do prato não se sobrepôs ao corpo leve do espumante e a acidez do tomate cereja equilibrou-se bem com a acidez da bebida.
  Seguimos com o Salton Poética Brut Rosé 2015, com aromas e sabores de frutas vermelhas e muito boa acidez refrescante, harmonizado com Pão Torrado, Cream Cheese, Banana Flambada com Conhaque Presidente e Geleia de Pimenta Rosa. A geleia de pimenta rosa combinou perfeitamente com os sabores de frutas vermelhas mas, na minha opinião, a banana flambada evidenciou um ligeiro amargor no retrogosto.
  Para acompanhar Damasco com Cream Cheese e Amêndoa, foi servido o Salton Demi-Sec, com aromas de maças, pêras e cítricos, boa acidez e doçura residual. Não sou muito adepta de espumantes demi-sec mas tenho que admitir que a harmonização favoreceu tanto à bebida quanto à comida. A doçura do damasco contrabalanceou a doçura residual do espumante e a boa acidez deste harmonizou todo o conjunto.
  Eu já conhecia o Salton Reserva Ouro e é um espumante que me agrada bastante. Possui aromas de frutas cítricas e de abacaxi e, apesar de ser elaborado pelo método Charmat, é untuoso e amanteigado na boca. Para acompanhá-lo, Pão Sete Grãos, Pasta de Queijo (Gorgonzola, Parmesão e Colonial), Picles e Gergelim Preto. Mais um belo resultado! A pasta de queijo combinou muito com a untuosidade do Reserva Ouro e o picles equilibrou a sua acidez.
  O Salton Évidence possui aromas de frutas cítricas, abacaxi e notas ligeiras de panificação e sabores de amêndoa tostada e frutas cítricas, além de uma ótima acidez. O Palito de Massa Folhada com Queijo Parmesão foi uma boa opção. A ótima acidez do espumante limpou bem a gordura do queijo do palato e a massa folhada harmonizou bem com as notas de panificação.
  O Salton Lucia Canei é um dos tops de linha da vinícola. Elaborado com 100% de Pinot Noir, o nome é uma homenagem à matriarca  da família Salton. É um rosé, elaborado pelo método tradicional e que passou dezoito meses em contato com as borras e foram produzidas apenas 5075 garrafas numeradas. Possui aromas florais, de frutas vermelhas e notas ligeiras de panificação e sabores muito evidentes de frutas vermelhas e boa acidez. A Sopa Fria de Beterraba ao Caldo de Funghi ficou perfeita com esse espumante elegante e de sabor frutado pronunciado.
  Para finalizar, a sobremesa. Um Flan de Suco de Uva e um Salton Moscatel, aromático trazendo flores brancas, lichia e uva verde, muito leve, com boa acidez e bastante doçura residual.
  Saímos da Salton com o horário ligeiramente apertado pois havíamos contratado um motorista para nos levar ao distrito de Faria Lemos para conhecermos algumas das famosas cantinas históricas no período da tarde. Almoçamos rapidamente e saímos para novas visitas e degustações.
  A caminho da vinícola Cristófoli, paramos para visitar o Mirante do Campanário, que fica em uma torre ao lado da igreja de Nossa Senhora do Rosário em Faria Lemos. Foi o único programa turístico fora de vinícola durante toda a viagem, mas que recomendo para todos. A vista é linda! Ficamos alguns minutos parados, contemplando a vista, de uma lado a igreja de Nossa Senhora do Rosário vista de cima e, do outro, um mar de verde com montanhas e vinhedos a perder de vista. Mas ainda tínhamos três vinícolas pra visitar e alguns vinhos pra degustar.






  A vinícola Cristófoli é pequena e familiar. Fomos atendidos por três gerações de mulheres da família, avó, mãe e neta, que trabalhavam na loja no momento da nossa visita. Conhecemos a vinícola por dentro e nos explicaram o processo de produção. Infelizmente, não pudemos conhecer os vinhedos que estão espalhados em vários lugares e todos a alguns quilômetros da vinícola. Depois, fomos conduzidos, é claro para a degustação. Vinhos bem elaborados, de pequena produção e bom custo benefício. Me chamou a atenção o vinho branco de Moscatel, muito leve e totalmente seco, saindo do padrão dos Moscatéis doces da região. Tive que adquirir uma garrafa!
  Seguimos para a Dal Pizzol e me encantei já na entrada. A vinícola tem um parque lindo! Um museu a céu aberto, jardins, lago com patinhos e o encantador "Vinhedo do Mundo". Trata-se de uma coleção de 400 variedades de videiras de 30 países dos cinco continentes em um espaço de 0,7 hectares. O espaço está aberto à visitação, as videiras estão todas identificadas e você pode ficar quanto tempo quiser, comparando as diversas variedades. Eu me perdi de alegria naquele lugar! Se não fosse a intervenção de São Pedro, seria difícil me tirarem de lá. Mas ele resolveu mandar a única chuva do dia e me trazer de volta à realidade. Como prêmio de consolação, fomos degustar alguns vinhos. A Dal Pizzol não trabalha com barricas de madeira, assim como outras vinícolas da região, a fim de preservar o caráter varietal da uva. O Dal Pizzol Ancellotta 2014 foi o meu eleito. Quinze meses de amadurecimento em tanques de aço inox, aromas de ameixas negras, amora, mirtilo, couro e especiarias, é complexo, volumoso, potente, com boa acidez e taninos domados bem presentes. Muito gastronômico e com bom retrogosto, além de ter um excelente custo benefício.







  A contragosto, saímos de lá pois ainda tínhamos uma última visita e já estava ficando tarde. A Mena Kaho é uma vinícola orgânica que trabalha com vitis viníferas e vitis americanas tanto para a produção de sucos, como de vinhos finos e de mesa. Chegamos tarde para a visitação na vinícola mas a tempo para mais degustações. Os sucos, produzidos com vitis americanas, são concentrados e saborosos. Os vinhos, produzidos com vitis viníferas, são de boa qualidade e custo benefício. A vinícola produz também vinhos tintos de mesa orgânicos com a vitis americana, tanto tinto suave como rosé seco. Confesso que fiquei curiosa pois nunca tinha degustado um vinho de mesa rosé seco. Com aroma intenso de uva, assim como os vinhos de garrafão, é bem mais leve e bastante refrescante, além de não possuir nenhuma doçura residual. Valeu a experiência!
  Foi mais um dia longo e cheio de novidades. No próximo texto vou falar sobre outro restaurante divino e sobre como São Pedro resolveu atender as minhas preces no último minuto do segundo tempo.
  Agora é só no ano que vem! Boas comemorações e brindes e até 2018! Cheers!

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