Continuando o diário da viagem, chegamos a Bento Gonçalves na terça, dia 10 de outubro, já no início da noite. Depois de um dia inteiro entre aeroportos, avião e estrada, pois o voo nos leva até Porto Alegre que fica a 122 km de Bento Gonçalves, só tivemos ânimo para sair para comer alguma coisa e voltamos para o hotel. O roteiro que tínhamos pela frente seria intenso.
A primeira vinícola a visitar seria a Adolfo Lona. Conheci o mestre Lona no início do ano em uma degustação promovida por uma grande loja de vinhos aqui de BH e, na oportunidade, comentei da minha intenção de ir ao Sul e da vontade de conhecer a sua vinícola. Ele, muito simpático, se mostrou receptivo. Quando comecei a planejar o roteiro, descobri que a Adolfo Lona não incluía roteiros de visitação. Mandei um e-mail para a vinícola me identificando e falando a data da viagem e reafirmando a minha vontade de visitá-los. O próprio mestre me respondeu e marcamos a data. Era uma quarta-feira chuvosa e, mineiros como somos, chegamos pontualmente 15 minutos antes. O sr. Lona nos recebeu junto com a sua esposa sra. Silvia, tão simpática quanto ele, nos mostrou pessoalmente toda a vinícola e explicou passo a passo o processo de produção dos seus espumantes, nos apresentou aos seus funcionários e nos levou para conhecer a cave onde ficam maturando as suas preciosidades.
Ao chegarmos na cave, nos deparamos com uma linda mesa posta com frios e pães e ele nos serviu um espumante Adolfo Lona Brut Rosé. Coincidentemente, este foi o primeiro espumante dele degustado por mim, aquele que me chamou a atenção para a qualidade do produtor e que eu já recomendei a várias pessoas que me pediram indicação. Elaborado pelo método Charmat, possui aromas de frutas vermelhas, é leve e com uma refrescância deliciosa. Degustar esse espumante na cave da Adolfo Lona, rodeada por todas aquelas garrafas em diferentes estágios de maturação e trocando impressões com o próprio mestre produtor, foi único. Quando saímos da vinícola, comentei com o meu marido que talvez aquela tenha sido a nossa melhor visita.
Mas não parou por aí. O mestre trouxe uma segunda garrafa e tivemos o prazer de brindar com o Adolfo Lona Orus Doña Silvia 1972, lançado esse ano em homenagem à sua esposa e aos 45 anos de matrimônio do casal. Elaborado com as castas Merlot e Pinot Noir pelo método tradicional, passou mais de 30 meses de maturação em garrafa. Foram produzidas apenas 1100 garrafas e todas numeradas. Sua cor rosé clair é linda e a perlage fina e persistente. Os aromas surpreendem porque, apesar do tempo de maturação, se percebe as notas de panificação mas sem se sobrepor às frutas vermelhas. Em boca é marcante, com sabores de amêndoas torradas, morango, cerejas e uma ótima acidez.
Durante duas horas ficamos dentro da cave do mestre, nos deliciando com os seus espumantes, o ambiente acolhedor e a conversa. Quando nos despedimos, ele nos deu de presente uma garrafa do Adolfo Lona Brut Nature elaborado pelo método tradicional e sem a adição de licor de expedição. Em nossas conversas, eu havia mencionado que era o meu espumante favorito. Claro que, até então, eu não havia degustado o fantástico Orus Doña Silvia 1972.
Após essa primeira e deliciosa visita, fomos até a vinícola Peterlongo onde tínhamos agendado uma visitação guiada para o início da tarde. O castelo da Peterlongo é encantador! Passamos pela linha de produção, conhecemos o museu e visitamos as caves subterrâneas com suas paredes de pedra onde se vê a água minando livremente. O guia nos explicou que a vinícola foi fundada por Manoel Peterlongo a mais de 100 anos mas que hoje já não pertence mais à família. Eles se orgulham em falar que os únicos Champagnes brasileiros são produzidos por eles, pois conseguiram judicialmente o direito de usar o termo. Tenho minhas restrições com relação ao uso do termo no espumante nacional mas não é o objetivo desse texto. Quem sabe em uma futura publicação.
Após o tour, seguimos, é claro, para a sala de degustação, onde nos deliciamos com alguns rótulos e rumamos para a nossa última visita do dia, a Cooperativa Garibaldi.
Quando eu estava montando o roteiro de viagem, tentei contato por e-mail com a Cooperativa mas não obtive resposta. Como estávamos em Garibaldi, resolvemos que valeria a pena tentar uma visita mesmo assim. Fomos recebidos cordialmente, como é a regra nas vinícolas do Sul, e rapidamente conduzidos a uma visitação guiada. Na realidade, não se conhece a vinícola. Você é conduzido por um museu, onde passa por equipamentos muito antigos que eram usados na vinificação, por enormes barris de madeira que hoje foram substituídos pelos tanques de aço inox e a guia explica a história do surgimento da Cooperativa. Depois, é claro, vamos às degustações.
Ao contrário das duas vinícolas anteriores, a Garibaldi não concentra a sua produção apenas em espumantes, tendo também vários rótulos de vinhos tranquilos. São vinhos mais simples, mas no geral, bem elaborados e de baixo custo. A visita e a degustação não são pagas e eles te deixam muito a vontade para comprar ou não na loja.
Felizes pelas belas experiências do dia e carregando algumas garrafas, voltamos para Bento Gonçalves. No próximo texto, vou falar de como valeu a pena sair de manhã debaixo de um temporal e ficar sem almoço.
Até lá! Tim tim!
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