
A Chardonnay não é considerada uma uva aromática e os seus sabores neutros a tornam uma uva perfeita para ser trabalhada, adquirindo características próprias oriundas do processo de vinificação. Existem inúmeras possibilidades a serem exploradas pelo enólogo e, aliadas à grande adaptação em diferentes regiões, existem vários estilos de vinhos produzidos pela rainha das uvas brancas.

Na região central da Borgonha, em uma sub-região chamada Côte de Beaune, são produzidos alguns dos melhores e mais caros varietais de Chardonnay do mundo. Com estilo bem diferente de Chablis, são vinhos mais encorpados, com sabores de frutas de caroço e acidez média. A maioria dos produtores da região optam pela fermentação malolática, processo em que se transforma o ácido málico presente na uva em ácido lático, adquirindo cremosidade e criando aromas e sabores de manteiga e amêndoas e suavizando a acidez. Muitas vezes passam por madeira, exibindo sabores tostados e de nozes, e podem passar um tempo de envelhecimento em contato com borras das leveduras, adquirindo complexidade e corpo. Esses vinhos, em sua maioria, têm ótimo potencial de envelhecimento em garrafa.
Já na porção sul da Borgonha, os brancos de Chardonnay podem ser vinificados de forma semelhante a Côte de Beaune ou podem ser simples e frutados, sem contato com madeira, com corpo e acidez médios e sabores cítricos e de maça verde, além dos aromas de manteiga adquiridos na fermentação malolática.

Devido à sua alta adaptabilidade, podemos encontrar Chardonnay em quase todas as regiões vinícolas do mundo. Na California, é a casta mais plantada, considerando-se brancas e tintas. A variedade de estilos é enorme. Podendo ser vinhos ao estilo de Côte de Beaune, com alta complexidade, sabores tostados da madeira e muito corpo, até econômicos, com produção de alto volume, simples e frutados e, às vezes, com algumas notas tostadas.
Em 24 de maio de 1976, aconteceu em Paris, um evento que marcou para sempre o mundo do vinhos. O comerciante inglês Steve Spurrier, com o objetivo de promover a sua loja de vinhos, organizou uma degustação às cegas onde seriam confrontados os Chardonnay e Cabernet Sauvignon californianos com os melhores vinhos franceses da Borgonha e de Bordeaux, respectivamente. Foi formado um juri de nove especialistas, representantes da elite cultural do vinho da França. O Chateau Montelena Chardonnay 1973, da Califórnia, foi o vencedor na categoria brancos, superando os melhores Borgonhas. O resultado gerou muita surpresa entre os jurados que não podiam compreender como um vinho do Novo Mundo poderia superar os melhores franceses. Durante a degustação dos tintos, o comportamento dos jurados havia mudado e eles começaram a dar notas muito altas ou muito baixas, dependendo de onde achavam ser a origem do vinho. Mas, mesmo assim, Stag's Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon 1973, californiano, foi julgado o melhor. Trinta anos depois, em 24 de maio de 2006, os mesmos vinhos, foram degustados simultaneamente por jurados europeus e americanos e os cinco vinhos mais bem pontuados foram de Nappa Valley. Essa história virou filme e é bem interessante.
Outros países com grande reputação na produção de Chardonnay são a Austrália, a Nova Zelândia e o Chile. O estilo varia de acordo com o clima e as opções do enólogo no processo de vinificação. O Brasil tem investido bastante na casta para a produção de espumantes e de vinhos tranquilos e os resultados têm sido muito promissores. Várias vinícolas nacionais estão apostando na rainha das brancas e em seus diferentes estilos de vinificação. Mais do que qualquer outra casta, a Chardonnay faz jus à máxima de que cada garrafa de vinho é uma surpresa.
Vou ficando por aqui e deixo como sugestão para uma noite chuvosa o filme O Julgamento de Paris (Bottle Shock), um balde de pipoca e um Chardonnay Californiano. Ótimas surpresas a todos e até uma próxima publicação. Saúde!
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