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Sexto dia - Vinícola Barcarola e Chandon

  Nosso penúltimo dia de viagem iniciou com céu claro e muito calor. Acordamos cedo e fomos novamente até à Vinhos Larentis, onde fomos recebidos pelo enólogo André Larentis que, atenciosamente, nos apresentou todas as instalações e falou sobre os métodos de produção utilizados na vinícola. Como já havíamos feito as degustações no dia anterior, a visita foi relativamente rápida e caminhamos até a Barcarola, que fica a mais ou menos 600 metros de distância.
  A Barcarola é uma vinícola Boutique e apenas a loja da vinícola é aberta à visitação o que, mesmo assim, vale muito à pena devido à qualidade dos seus vinhos e ao fato de, por se tratar de uma vinícola familiar, você ter grande chance de ser atendido por um dos enólogos da família e ter a oportunidade de degustar com a orientação de um dos criadores.
  Fomos atendidos por César Petroli e, como era uma segunda de manhã, logo após um feriado prolongado, a loja estava vazia e tivemos a oportunidade de degustar tranquilamente e ouvir todas as explicações de César, que nos falou sobre a opção da vinícola em não usar madeira em nenhum dos seus rótulos com o objetivo de preservar o caráter varietal da fruta. Ele até nos brindou com dois rótulos especiais que, normalmente, não fazem parte da degustação e são considerados os ícones da vinícola e que, devido à pequena produção, não são comercializados fora dali. Daqui a pouco falarei sobre eles.
  Iniciamos a degustação com o Barcarola Specialità Lagrein 2015. A Lagrein é uma casta autóctone da região de Trentino Alto-Adige, no extremo norte da Itália e não muito comum aqui no Brasil. Produz vinhos frutados com aromas de framboesas e ameixas. Em boca se mostrou leve, com boa acidez e poucos taninos. Um vinho agradável e muito fácil de beber.
  O vinho seguinte também foi de uma casta pouco comum. A Rebo é uma uva italiana que se originou do cruzamento da Teroldego com a Merlot e recebeu o nome do agrônomo criador, Rebo Rigotti. O Barcarola Specialità Rebo 2014 apresenta aromas de frutas negras como ameixa, amora e jabuticaba, corpo e acidez médios, boa acidez e muita fruta no sabor. Não conhecia a casta e adorei a experiência!
  Uva autóctone do Uruguai, a Tannat tem se dado muito bem no terroir do Rio Grande do Sul e vários produtores da região estão produzindo varietais. O Barcarola Specialità Tannat 2012, segue a linha dos varietais nacionais, bem mais leve que os uruguaios. Com aromas de ameixas secas, especiarias e couro, possui corpo médio, boa acidez e taninos macios.
  O Luiz Petroli Merlot 2012 faz parte da primeira linha da vinícola e o nome é uma homenagem ao viticultor e pai dos dois enólogos atuais. A coloração rubi já evoluindo para granada nos sinaliza a evolução do vinho. A predominância de aromas terciários como couro, terra e especiarias confirma a impressão passada pela análise visual. Com corpo e acidez médios e taninos macios, é um vinho em seu pleno auge. Muito bom rótulo!
  Voltamos à linha Specialità com o Teroldego 2012 e seus aromas de amoras silvestres, mirtilos e notas de pimenta preta e algum herbáceo. Um vinho potente, estruturado, com taninos macios e muita fruta no sabor. Apesar de ser da mesma safra do Merlot anterior, é um vinho bem mais jovem. Para traçar uma comparação, César nos serviu um Luiz Petroli Teroldego 2008, com a mesma casta mas pertencente à primeira linha da vinícola e bem mais evoluído. Nos aromas, a fruta ainda permanece presente mas predominam os terciários como couro, tabaco e chocolate. Poderoso, encorpado, ainda com boa acidez e taninos bem presentes mas domados e sem arestas. Um grande vinho digno de grandes apreciadores!
  Quando achávamos que tínhamos atingido o auge e que já havíamos nos surpreendido bastante, César tirou dois coelhos da manga. O Luiz Petroli Tipo Amarone 2012 é elaborado com o mesmo processo do Amarone Della Valpolicella, as uvas sendo deixadas pra secar em esteiras por cerca de 20 dias. Com aromas intensos de frutas negras em compota, alcaçuz, chocolate e mel, apresenta grande estrutura e corpo, é muito tânico e com boa acidez.
  Eu não parava de me deliciar com a maravilhosa degustação daquela manhã e já me preocupava com os instintos consumistas que estavam crescendo dentro de mim, quando César resolveu adoçar o momento. O Luiz Petroli Tipo Recioto 2012 é um vinho licoroso, elaborado como o Recioto Della Valpolicella, com as uvas deixadas para secar em esteiras por cerca de 35 dias. Com aromas de frutas negras e vermelhas em compota, é doce, muito encorpado, com boa acidez e taninos e um final surpreendentemente longo. Estávamos fechando a degustação da manhã com chave de ouro!




  Na parte da tarde, iriamos novamente a Garibaldi visitar a Chandon. Quando eu estava fazendo o roteiro da viagem, não consegui conciliar a Chandon com as demais vinícolas de Garibaldi pois eles não funcionaram durante todo o período do feriado. A visitação é gratuita mas deve ser agendada com antecedência. Caso você não tenha agendamento, poderá participar da degustação mas não da visitação.
  A visitação é muito interessante, as instalações são grandes e modernas e a guia nos explica sobre todo o processo de produção. Mas a cereja do bolo é a degustação do espumante retirado direto do tanque de aço inox. Como ainda está em processo de maturação, não foi filtrado e nem recebeu licor de expedição, portanto é bem seco e com sabores frutados muito evidentes. De todos os espumantes degustados no dia, foi o meu favorito. Pena não ser comercializado. Após a visita, é claro, fomos à degustação onde nos foram servidos cinco rótulos na loja própria da vinícola, onde os preços são mais baixos que no mercado. Vale ressaltar que a Chandon não despacha os vinhos como a maioria das vinícolas. Você pode comprar o quanto quiser, mas tem que levar. Isso me salvou de mais um desfalque na minha conta bancária.







  A viagem está chegando ao fim e, para o gran finale, vou falar de como a indicação de um querido amigo me ajudou a fechar o passeio com chave de ouro. Até o próximo texto! Saúde à todos!


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