O mundo dos vinhos é cheio de informações. Mas você não precisa se tornar um expert para usufruir da bebida dos deuses. Baseada nas dúvidas mais comuns de amigos e conhecidos, elaborei cinco tópicos que vão facilitar a vida dos enófilos iniciantes.
1- De olho no rótulo:
O mercado está cheio de opções. Por isto, é natural que, na hora de comprar, você se veja perdido em meio a tantos estilos diferentes. No entanto, algumas informações no rótulo podem te auxiliar no momento da escolha.
Safra- "Vinho quanto mais velho, melhor!" Quem nunca ouviu essa frase? Mas não é bem assim! É verdade que existem vinhos de guarda que se beneficiam muito com o envelhecimento, ganhando equilíbrio e complexidade de aromas e sabores. Mas esses vinhos somam menos de 10% da produção e, na maioria das vezes, são muito caros.
A grande maioria dos vinhos brancos, rosés e espumantes devem ser tomados jovens, de preferência nos dois primeiros anos, caso contrário perderão os seus aromas frutados, acidez e refrescância, que são as características mais desejadas nesse estilo de vinho. No caso dos brancos e rosés, o ideal é que se procure sempre as safras mais recentes pois estarão mais frescos e aromáticos. Os espumantes, em sua maioria, não são safrados por se tratarem de um corte de vinhos de várias safras. Por isto, o ideal é que sejam comprados em lojas onde sabemos haver um bom giro dos produtos. No caso dos espumantes Vintage, ou seja, safrados, normalmente são elaborados com as melhores uvas, nas melhores safras e, portanto, exibem maior complexidade e estrutura e muitos deles estão aptos ao envelhecimento, evoluindo em garrafa muito bem e adquirindo novos aromas e sabores.
Com relação aos vinhos tintos, a maioria são vinhos frutados e não se beneficiarão com o envelhecimento. Já os vinhos mais encorpados, que passaram por barricas de carvalho, poderão adquirir complexidade e equilíbrio após alguns anos.
Teor Alcoólico- A quantidade de álcool do vinho, com exceção de alguns estilos, varia de 9 a 15%. O álcool é um dos componentes que dá corpo ao vinho. Portanto, se você tem uma preferência por vinhos mais leves ou mais encorpados, o teor alcoólico te dará uma pista sobre o peso deste vinho.
Uva ou Região- Os países produtores de vinhos estão divididos em Velho Mundo e Novo Mundo e existem algumas diferenças, tanto de estilo como de rotulagem. No Velho Mundo estão incluídos os países europeus. Todos os demais países produtores de vinhos estão incluídos no Novo Mundo.
A rotulagem dos países do Velho Mundo é um pouco mais complicada para o iniciante porque a maioria não traz o nome das uvas e sim a região onde são produzidas. As regiões vinícolas na maioria dos países são divididas em Indicações Geográficas (IG). Na Europa, essas IGs possuem regras específicas que devem ser respeitadas para se preservar o estilo de vinho da região. Para que o produtor possa rotular o seu vinho com o nome de determinada IG, ele só poderá produzir com variedades de uvas permitidas nesta IG, respeitar a quantidade máxima de quilos produzido por hectares, o tempo mínimo de envelhecimento em carvalho e em garrafa, entre várias outras regras. Por exemplo, se você comprar um vinho tinto com o termo Bordeaux no rótulo, ele só pode ter sido produzido com as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, mas o nome das uvas não estará no rótulo. Um Beaujolais será produzido com a uva Gamay, um Chablis com a Chardonnay, o Brunello com a Sangiovese, o Barolo e o Barbaresco com a Nebbiolo, e por aí vai. Mas nenhuma dessas uvas aparecerá no rótulo.
No novo mundo, apesar de existir as IGs, elas são bem menos regulamentadas e os rótulos, na maioria das vezes, trazem o nome das uvas.
Outros Termos Que Podem Ser Encontrados No Rótulo- Muitas vezes, ao ler um rótulo, nos deparamos com termos como Reserva, Gran Reserva, Clássico, entre outros. Neste caso, também temos uma diferença entre Novo e velho Mundo. No Velho Mundo, esses termos também são regulamentados, exigindo um tempo mínimo de envelhecimento em madeira e garrafa, ou até mesmo que as uvas sejam provenientes de vinhedos de determinada localização. No Novo mundo não existem essas regras, cabendo ao produtor classificar os seus vinhos, podendo o mesmo colocar o termo apenas para destacar que é um pouco melhor que outro produzido por ele.
Cabe aqui destacar o Reservado que nada tem a ver com o Reserva. Muito pelo contrário. Esse termo, muito utilizado por vinícolas chilenas de alta produção, e que pode ser encontrado em muitos rótulos que se encontram nas prateleiras dos nossos supermercados, sinaliza a categoria de vinhos inferiores da vinícola, que foram produzidos com uvas de menor qualidade e corrigidos quimicamente antes de serem engarrafados.
2- Varietal ou Blend:
Já ouvi algumas pessoas comentarem que deixaram de comprar determinado vinho porque era uma "mistura de uvas". O Corte ou Blend é realizado em muitos dos melhores vinhos do mundo. Trata-se de uma opção do enólogo para melhorar o equilíbrio, a estrutura e a complexidade. Um exemplo disso é o famoso corte Bordalês com as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc em menor proporção. A Cabernet Sauvignon proporciona cor e altos níveis de taninos, que estão presentes na casca da uva e causam aquela sensação adstringente no vinho, a Merlot traz fruta e suavidade e a Cabernet Franc adiciona aromas florais e fruta vibrante.
Vinhos varietais são elaborados com apenas um tipo de uva. Neles podemos sentir o caráter da fruta e todas as suas características. Portanto, o que vale é experimentar para que você comece a compreender os estilos e perceber o que te agrada ou não.
3- Armazenamento:
O vinho é uma bebida que está em constante evolução. Se você está guardando determinada garrafa para uma ocasião especial, deve tomar alguns cuidados para não correr o risco de ter uma surpresa desagradável.
Se você não tem uma adega climatizada, procure na sua casa um local fresco, com temperatura constante, livre de umidade e vibração e, de preferência, sem iluminação direta. Nunca armazene os seus vinhos na cozinha pois é o cômodo de maior variação de temperatura. Também evite deixar as garrafas por tempo prolongado na geladeira pois as baixas temperaturas contribuem para o ressecamento da rolha, o que pode ocasionar a entrada de oxigênio na garrafa com a consequente oxidação do vinho.
Guarde sempre as suas garrafas deitadas e não se esqueça de prestar atenção à safra e estilo do vinho para não correr o risco de esperar demais e deixar passar o seu melhor momento.
4- Temperatura de Serviço:
Cada estilo de vinho deve ser servido em uma determinada temperatura para que se possa desfrutar melhor dos seus aromas e sabores.
As pessoas costumam dizer que o vinho tinto deve ser servido à temperatura ambiente. Muito cuidado com isso! Esse é um conceito europeu, onde a maioria das regiões possui um clima fresco em boa parte do ano. Aqui no Brasil e em outros lugares de clima quente, o vinho tinto deverá ser resfriado. O álcool é o componente mais volátil do vinho. Portanto, se ele for servido em temperaturas mais altas, o álcool irá se sobressair sobre todos os outros aromas, podendo o vinho ficar desagradável. Os brancos, rosés e espumantes são servidos ainda mais resfriados e, dependendo do estilo, até mesmo gelados. A tabela abaixo nos mostra a temperatura ideal pra cada tipo de vinho.
5- Harmonização:
Quando se vai harmonizar vinho com comida é comum combinar tinto com carne e branco com peixe. Mas existem muitos outros fatores que devemos levar em consideração para criar harmonizações bem sucedidas. Peixes mais estruturados também podem harmonizar com tintos leves e frutados, assim como carnes mais magras podem fazer uma boa combinação com brancos que passaram pela madeira.
Quando vamos escolher um vinho para um determinado prato, devemos levar em conta alguns fatores para evitar decepções. Comidas pesadas, por exemplo, exigem vinhos mais encorpados. Caso contrário, o vinho parecerá sem estrutura. Comidas picantes podem interagir com os taninos do vinho e aumentar a sensação de ardor, o que pode ser desagradável para muitas pessoas. Nesse caso, seria mais indicado um vinho branco, um espumante ou um tinto frutado e com poucos taninos. Comidas gordurosas se beneficiam de vinhos com acidez elevada porque ela ajuda a limpar a gordura do palato. Comidas ácidas exigem vinhos de alta acidez, caso contrário, os mesmos parecerão flácidos e sem graça.
Mas o mais importante a se levar em conta é o gosto pessoal. As regras de harmonização nos ajudam a descobrir as combinações que mais irão nos agradar mas, no final, quem vai ditar as próprias regras será você.
Espero que esse texto tenha ajudado. Em breve virão novas publicações. Um brinde a essa bebida maravilhosa e a todos vocês! Saúde!
1- De olho no rótulo:
O mercado está cheio de opções. Por isto, é natural que, na hora de comprar, você se veja perdido em meio a tantos estilos diferentes. No entanto, algumas informações no rótulo podem te auxiliar no momento da escolha.
Safra- "Vinho quanto mais velho, melhor!" Quem nunca ouviu essa frase? Mas não é bem assim! É verdade que existem vinhos de guarda que se beneficiam muito com o envelhecimento, ganhando equilíbrio e complexidade de aromas e sabores. Mas esses vinhos somam menos de 10% da produção e, na maioria das vezes, são muito caros.
A grande maioria dos vinhos brancos, rosés e espumantes devem ser tomados jovens, de preferência nos dois primeiros anos, caso contrário perderão os seus aromas frutados, acidez e refrescância, que são as características mais desejadas nesse estilo de vinho. No caso dos brancos e rosés, o ideal é que se procure sempre as safras mais recentes pois estarão mais frescos e aromáticos. Os espumantes, em sua maioria, não são safrados por se tratarem de um corte de vinhos de várias safras. Por isto, o ideal é que sejam comprados em lojas onde sabemos haver um bom giro dos produtos. No caso dos espumantes Vintage, ou seja, safrados, normalmente são elaborados com as melhores uvas, nas melhores safras e, portanto, exibem maior complexidade e estrutura e muitos deles estão aptos ao envelhecimento, evoluindo em garrafa muito bem e adquirindo novos aromas e sabores.
Com relação aos vinhos tintos, a maioria são vinhos frutados e não se beneficiarão com o envelhecimento. Já os vinhos mais encorpados, que passaram por barricas de carvalho, poderão adquirir complexidade e equilíbrio após alguns anos.
Teor Alcoólico- A quantidade de álcool do vinho, com exceção de alguns estilos, varia de 9 a 15%. O álcool é um dos componentes que dá corpo ao vinho. Portanto, se você tem uma preferência por vinhos mais leves ou mais encorpados, o teor alcoólico te dará uma pista sobre o peso deste vinho.
Uva ou Região- Os países produtores de vinhos estão divididos em Velho Mundo e Novo Mundo e existem algumas diferenças, tanto de estilo como de rotulagem. No Velho Mundo estão incluídos os países europeus. Todos os demais países produtores de vinhos estão incluídos no Novo Mundo.
A rotulagem dos países do Velho Mundo é um pouco mais complicada para o iniciante porque a maioria não traz o nome das uvas e sim a região onde são produzidas. As regiões vinícolas na maioria dos países são divididas em Indicações Geográficas (IG). Na Europa, essas IGs possuem regras específicas que devem ser respeitadas para se preservar o estilo de vinho da região. Para que o produtor possa rotular o seu vinho com o nome de determinada IG, ele só poderá produzir com variedades de uvas permitidas nesta IG, respeitar a quantidade máxima de quilos produzido por hectares, o tempo mínimo de envelhecimento em carvalho e em garrafa, entre várias outras regras. Por exemplo, se você comprar um vinho tinto com o termo Bordeaux no rótulo, ele só pode ter sido produzido com as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, mas o nome das uvas não estará no rótulo. Um Beaujolais será produzido com a uva Gamay, um Chablis com a Chardonnay, o Brunello com a Sangiovese, o Barolo e o Barbaresco com a Nebbiolo, e por aí vai. Mas nenhuma dessas uvas aparecerá no rótulo.
No novo mundo, apesar de existir as IGs, elas são bem menos regulamentadas e os rótulos, na maioria das vezes, trazem o nome das uvas.
Outros Termos Que Podem Ser Encontrados No Rótulo- Muitas vezes, ao ler um rótulo, nos deparamos com termos como Reserva, Gran Reserva, Clássico, entre outros. Neste caso, também temos uma diferença entre Novo e velho Mundo. No Velho Mundo, esses termos também são regulamentados, exigindo um tempo mínimo de envelhecimento em madeira e garrafa, ou até mesmo que as uvas sejam provenientes de vinhedos de determinada localização. No Novo mundo não existem essas regras, cabendo ao produtor classificar os seus vinhos, podendo o mesmo colocar o termo apenas para destacar que é um pouco melhor que outro produzido por ele.
Cabe aqui destacar o Reservado que nada tem a ver com o Reserva. Muito pelo contrário. Esse termo, muito utilizado por vinícolas chilenas de alta produção, e que pode ser encontrado em muitos rótulos que se encontram nas prateleiras dos nossos supermercados, sinaliza a categoria de vinhos inferiores da vinícola, que foram produzidos com uvas de menor qualidade e corrigidos quimicamente antes de serem engarrafados.
2- Varietal ou Blend:
Já ouvi algumas pessoas comentarem que deixaram de comprar determinado vinho porque era uma "mistura de uvas". O Corte ou Blend é realizado em muitos dos melhores vinhos do mundo. Trata-se de uma opção do enólogo para melhorar o equilíbrio, a estrutura e a complexidade. Um exemplo disso é o famoso corte Bordalês com as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc em menor proporção. A Cabernet Sauvignon proporciona cor e altos níveis de taninos, que estão presentes na casca da uva e causam aquela sensação adstringente no vinho, a Merlot traz fruta e suavidade e a Cabernet Franc adiciona aromas florais e fruta vibrante.
Vinhos varietais são elaborados com apenas um tipo de uva. Neles podemos sentir o caráter da fruta e todas as suas características. Portanto, o que vale é experimentar para que você comece a compreender os estilos e perceber o que te agrada ou não.
3- Armazenamento:
O vinho é uma bebida que está em constante evolução. Se você está guardando determinada garrafa para uma ocasião especial, deve tomar alguns cuidados para não correr o risco de ter uma surpresa desagradável.
Se você não tem uma adega climatizada, procure na sua casa um local fresco, com temperatura constante, livre de umidade e vibração e, de preferência, sem iluminação direta. Nunca armazene os seus vinhos na cozinha pois é o cômodo de maior variação de temperatura. Também evite deixar as garrafas por tempo prolongado na geladeira pois as baixas temperaturas contribuem para o ressecamento da rolha, o que pode ocasionar a entrada de oxigênio na garrafa com a consequente oxidação do vinho.
Guarde sempre as suas garrafas deitadas e não se esqueça de prestar atenção à safra e estilo do vinho para não correr o risco de esperar demais e deixar passar o seu melhor momento.
4- Temperatura de Serviço:
Cada estilo de vinho deve ser servido em uma determinada temperatura para que se possa desfrutar melhor dos seus aromas e sabores.
As pessoas costumam dizer que o vinho tinto deve ser servido à temperatura ambiente. Muito cuidado com isso! Esse é um conceito europeu, onde a maioria das regiões possui um clima fresco em boa parte do ano. Aqui no Brasil e em outros lugares de clima quente, o vinho tinto deverá ser resfriado. O álcool é o componente mais volátil do vinho. Portanto, se ele for servido em temperaturas mais altas, o álcool irá se sobressair sobre todos os outros aromas, podendo o vinho ficar desagradável. Os brancos, rosés e espumantes são servidos ainda mais resfriados e, dependendo do estilo, até mesmo gelados. A tabela abaixo nos mostra a temperatura ideal pra cada tipo de vinho.
Quando se vai harmonizar vinho com comida é comum combinar tinto com carne e branco com peixe. Mas existem muitos outros fatores que devemos levar em consideração para criar harmonizações bem sucedidas. Peixes mais estruturados também podem harmonizar com tintos leves e frutados, assim como carnes mais magras podem fazer uma boa combinação com brancos que passaram pela madeira.
Quando vamos escolher um vinho para um determinado prato, devemos levar em conta alguns fatores para evitar decepções. Comidas pesadas, por exemplo, exigem vinhos mais encorpados. Caso contrário, o vinho parecerá sem estrutura. Comidas picantes podem interagir com os taninos do vinho e aumentar a sensação de ardor, o que pode ser desagradável para muitas pessoas. Nesse caso, seria mais indicado um vinho branco, um espumante ou um tinto frutado e com poucos taninos. Comidas gordurosas se beneficiam de vinhos com acidez elevada porque ela ajuda a limpar a gordura do palato. Comidas ácidas exigem vinhos de alta acidez, caso contrário, os mesmos parecerão flácidos e sem graça.
Mas o mais importante a se levar em conta é o gosto pessoal. As regras de harmonização nos ajudam a descobrir as combinações que mais irão nos agradar mas, no final, quem vai ditar as próprias regras será você.
Espero que esse texto tenha ajudado. Em breve virão novas publicações. Um brinde a essa bebida maravilhosa e a todos vocês! Saúde!
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