

No último dia 11, participei de um evento na Associação Brasileira de Sommeliers chamado Chilean Premium Wine - Tasting Tour. Trata-se de um projeto da empresa Winechef, pertencente a Alex Ordenes, único Sommelier Conseil da América Latina, titulado na França pela Université du Vin, e sua esposa e chef Edneia Benfica. A degustação foi conduzida pelo próprio Alex e foram apresentados vinhos de alta gama de vinícolas chilenas premiadas. O evento contou com a presença de Renato Costa, presidente da ABS Minas, sommeliers, estudantes e enófilos. Foi uma noite agradável e instrutiva, em que tivemos a oportunidade de conhecer e apreciar rótulos de vinícolas renomadas.

Foram apresentados oito rótulos, sendo um branco, um rosé e seis tintos. A Master Class guiada por Alex, que nos falou um pouco sobre cada vinho, o produtor e as suas premiações, foi muito bem conduzida e todos os que estiveram presentes tiveram a oportunidade de desfrutar e aprender um pouco mais sobre os vinhos chilenos de primeira linha.
O primeiro vinho degustado foi o Ventolera Sauvignon Blanc 2016 produzido com uvas do Valle de San Antonio, região muito próxima ao oceano Pacífico e com o clima fresco muito propício ao cultivo da casta. Um vinho de coloração amarelo palha pálido, com aromas de maracujá, maçã verde, frutas cítricas e um herbáceo bem característico dos vinhos de Sauvignon Blanc, com notas de arruda e uma certa mineralidade. Esse rótulo exibiu ótima tipicidade e equilíbrio, um corpo leve e ótima acidez refrescante. Daqueles vinhos que se abre a garrafa e não percebe ela chegar ao fim.
Seguimos com o rosé de Cabernet Franc Loma Larga 2017, produzido na região costeira do Valle de Casablanca, onde as videiras se beneficiam do clima fresco para preservar uma boa acidez. Com coloração rosa casca de cebola, é um vinho muito aromático com bastante floral, morango, framboesa e cereja. Um rosé de corpo leve, ótima acidez e sabores frutados. Um vinho agradável mas que ao meu paladar não se sobressaiu à maioria dos rosés encontrados no mercado.

Passamos para os tintos. Todos eles já estavam em aeração no decanter no momento em que chegamos para a degustação. Portanto, já chegaram na taça prontos para serem apreciados. Iniciamos com o blend Ventolera Pinot Noir - Syrah 2015, produzido com 65% de Pinot Noir, 32% de Syrah e 3% de Chardonnay e maturado por quinze meses em barricas de carvalho. Suas uvas foram produzidas no Valle de Leyda, a apenas 12 km do oceano pacífico, uma região de clima fresco muito propício à Pinot Noir. Na taça exibiu uma coloração rubi pálido, aromas de frutas vermelhas, o tostado da madeira evidente e notas terrosas e de cogumelos. No paladar mostrou-se jovem, com acidez quase alta e taninos discretos. Acredito que vai se beneficiar de mais algum tempo em garrafa .

O segundo tinto foi elaborado através de um corte de seis uvas. Chocalan Vitrum Blend 2013 é um corte contendo 40% de Cabernet Sauvignon, 38% de Syrah, 8% de Cabernet Franc, 8% de Malbec, 4% de Carmenérè e 2% de Petit Verdot. Produzido em Melipilla, no Valle del Maipo, e estagiado por quatorze meses em barricas de carvalho francês, possui uma coloração rubi quase profunda. Nos aromas, exibe notas de frutas negras, menta, especiarias como baunilha e cravo, tostado, couro e um certo mineral lembrando grafite. No paladar apresenta bom corpo, taninos macios e acidez média. Seus sabores frutados associados ao tostado e às especiarias da madeira bem integrados mostram que, apesar de já mostrar notas de evolução, ainda exibe bastante jovialidade. Uma curiosidade a respeito do nome da vinícola é que Chocalan significa flores amarelas. Esse nome foi dado ao local pelos povos aborígenes que habitavam a região devida às flores silvestres amarelas que a recobriam durante a primavera.

Passamos para o primeiro tinto varietal da noite. O Loma Larga Cabernet Franc 2015 foi elaborado no Valle de Casablanca e estagiou por vinte meses em barricas de carvalho francês novas. Possui coloração rubi com reflexos violáceos, o que mostra ainda potencial de evolução. Nos aromas, as notas herbáceas sobressaíram às frutas vermelhas, trazendo pimentão verde, eucalipto e notas de cereja e groselha, além do tostado da madeira já bem integrado. No paladar apresenta ótimo corpo, com taninos poderosos mas polidos e acidez quase alta. As frutas vermelhas e o tostado aparecem mas, mais uma vez, com predominância das notas verdes. Sem dúvida um belo vinho mas não seria a minha escolha da noite pois essas notas herbáceas bem características de alguns vinhos chilenos, originárias da falta da completa maturação das uvas, não me agradam.

Voltamos para os blends para começar a série de vinhos realmente poderosos. O Laura Hartwig Edição de Família 2014 foi elaborado com 34% de Petit Verdot, 34% de Malbec, 30% de Cabernet Sauvignon e 2% de Cabernet Franc. Com uma pequena produção no Valle de Colchagua, estagiou por vinte meses em barricas de carvalho francês e foi engarrafado sem filtragem. Apresenta coloração rubi intenso e aromas de frutas negras, especiarias como pimenta preta e cravo, tostado da madeira muito bem integrado e notas herbáceas e de couro. No paladar apresenta ótimo corpo, taninos potentes e sem arestas e ótima acidez que, associada aos seus sabores frutados ainda vivos, mostra que o vinho ainda resiste a um bom tempo de guarda. Com ótima complexidade e equilíbrio, esse belo rótulo me conquistou.

Nosso penúltimo vinho e último blend da noite foi o Montelig 2010, elaborado com 40% de Cabernet Sauvignon, 30% de Petit Verdot e 30% de Carmenérè. Produzido no Valle del Aconcagua, com uma produção limitada a 9900 garrafas, todas numeradas, estagiou por 25 meses em barricas e foi engarrafado sem filtragem. Com coloração rubi ainda bastante intenso, apesar dos seus oito anos, possui aromas de couro, cedro, tostado e frutas negras. No paladar é volumoso, com taninos firmes, acidez ainda muito bem preservada e um final de boca longo. Um vinho já com certa evolução mas que ainda exibe muita jovialidade. Realmente, um belíssimo rótulo chileno!

Para encerrar com chave de ouro, o que foi, na minha humilde opinião, o campeão da noite! Trata-se de um varietal de Cabernet Sauvignon. O Gandolini Wines Las 3 marias 2013 foi produzido no Alto Maipo, envelhecido por 22 meses em barricas de carvalho francês e engarrafado sem filtragem. Exibiu uma bela coloração rubi profundo e apesar de estar em contato com o oxigênio por algumas horas no decanter, demorou um pouco para se abrir na taça, exibindo uma cereja preta fresca, ameixa, couro e notas tostados. Nenhum dos aromas herbáceos que seriam esperados nos vinhos de Cabernet Sauvignon. Um vinho que esbanja elegância! Muito equilibrado, com madeira muito integrada, encorpado, volumoso, com taninos poderosos e finos e alta acidez. E o mais especial é que, apesar de toda essa estrutura, é muito macio! Eu não me importaria em voltar a degustar esse néctar muitas outras vezes.
Depois de descrever e recordar as experiências com esses belos chilenos, acho que será necessário abrir uma garrafa. Até uma próxima publicação e ótimos vinhos a todos! Saúde!
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