Durante o mês de novembro, estive em Portugal conhecendo as suas diversas regiões e aproveitei para degustar vários dos seus maravilhosos vinhos. O país é lindo, os portugueses muito solícitos, a comida deliciosa e os vinhos são um belo espetáculo a parte. Visitei vinícolas, ótimos restaurantes, mercados, bares, comi comidas típicas acompanhadas de vinhos regionais e fiz degustações em enotecas muito bem montadas. Mas a minha experiência enológica mais enriquecedora aconteceu sem nenhuma programação.
Eu estava passeando pelas ruas de Sintra com a minha família quando passamos em frente a um charmoso Wine Bar. Como enófila de carteirinha, não pude deixar de entrar para conhecer o ambiente e conferir os rótulos oferecidos. A casa tem uma variedade incrível de rótulos vintage de Vinhos do Porto e Madeira. No balcão, um aviso oferecia aos clientes dois tipos de degustação de Vinhos do Porto, uma de vinhos mais jovens e outra de vinhos mais envelhecidos. Além disso, a carta oferecia várias opções de vinhos em taça e garrafa.
O Sr. Carlos nos atendeu com muita cordialidade e logo começamos uma animada conversa sobre o belo portfólio da loja. Eu costumo dizer que os enófilos se reconhecem em poucos minutos de conversa e foi assim que ele me ofereceu uma degustação que não estava divulgada no balcão e nem na carta de vinhos. Pedi à minha família que continuasse o passeio por Sintra e voltasse cerca de uma hora depois para me encontrar e fiquei na companhia de quatro taças de vinhos licorosos do Porto e do Douro colheitas 1977, 1963, 1958 e 1871.
O Porto Colheita Miguels 1977 foi elaborado com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca e estagiou em barrica até 2017, ano em que foi engarrafado. Possui uma coloração âmbar claro e aromas e sabores de amêndoas, noz-moscada e mel. Um vinho elegante e com a doçura bem equilibrada pela ótima acidez.
O Quinta de S. José Colheita 1963 é classificado como Vinho Fino do Douro e foi elaborado em uma propriedade do Baixo Corgo. É um vinho de lavrador, ou seja, feito por agricultores que não possuem a licença para a produção do Vinho do Porto embora possam vender as uvas ou mesmo o vinho para produtores regulamentados. São feitos na região, com as mesmas uvas que os Vinhos do Porto e a mesma tipicidade. Um legado de família que passa de geração em geração para o consumo próprio e para a prova com os amigos e que eu tive muita sorte de ter a oportunidade de degustar. Ele estagiou até 2003 em barricas quando foi engarrafado em demi-johns, que são garrafões de 12 a 13 litros, capazes de preservar a frescura e evitar a evaporação do vinho. Com coloração âmbar claro, possui aromas e sabores de amêndoas, nozes, mel e folhas secas. No paladar se mostrou macio, com doçura agradável e boa acidez.
O Porto Valriz Colheita 1958 foi o meu favorito. Elaborado com as castas Tinta Amarela, Tinta Roriz e Touriga Naciona, estagiou por 26 anos em tonéis de madeira e foi engarrafado em 1984. Ao contrário dos anteriores, possui uma coloração castanho escuro com um halo amarelado. Seus aromas e sabores remetem à baunilha, nozes e frutas vermelhas compotadas. O que mais me encantou foi a sua untuosidade. Muito encorpado e ao mesmo tempo macio e fresco e com grande persistência de sabores. Um verdadeiro néctar!
O Vinho Velho do Douro Frasqueira Particular 1871 foi elaborado pela Sociedade Agrícola dos Lavradores do Alto Douro com as castas tradicionais da região, a Touriga Nacional, a Touriga Franca, a Tinta Roriz e a Tinta Barroca. Classificado como Vinho Fino Velho do Douro possui uma coloração castanho escuro e halo amarelado. Os aromas se mostraram muito fechados em taça e foi necessária bastante aeração para que começassem a se abrir e a exibir baunilha, amêndoas e folhas secas. No paladar se mostrou muito vivo, o que me surpreendeu por se tratar de um vinho de quase 150 anos. Seus taninos estavam quase imperceptíveis e o conjunto muito elegante. Uma verdadeira preciosidade!
Para finalizar com chave de ouro, o Sr. Carlos me ofereceu uma taça do White Reserva Porto Branco Vasques de Carvalho, um blend contendo um lote de vinho oriundo do Baixo Corgo de 2012/2013, outro lote de Cima Corgo, um meio seco com 20 anos e um terceiro lote de um vinho com mais de 50 anos. Este vinho chegou ao mercado a poucos meses e ainda é encontrado em poucos lugares em Portugal. Sua coloração âmbar pálido se aproxima muito da coloração dos dois primeiros tintos degustados. Os sabores e aromas de casca de laranja cristalizada, mel, compota de ameixa e amêndoas apresentam grande persistência. É encorpado, untuoso, com a doçura bem equilibrada pela alta acidez. Não pude deixar de aproveitar a oportunidade e trazer uma garrafa pra casa.
Dentre vários aprendizados que esta incrível experiência enológica me proporcionou, não posso deixar de ressaltar a necessidade de se estar aberto para conhecer e degustar neste amplo mundo dos vinhos. A Denominação de Origem é importante e nos ajuda a identificar a tipicidade de cada região e a ter certeza de que aquele vinho respeitou regras que preservam a qualidade daquele local. Mas não podemos ignorar pequenos produtores que lavram a sua terra com as próprias mãos e produzem o seu vinho com amor e dedicação. Estas pequenas produções podem ser verdadeiros tesouros e me sinto privilegiada por ter tido a oportunidade de conhecer.
O ano está acabando e as festas vão começar. Desejo a todos boas festas, muitos vinhos e um 2019 com grandes realizações. Cheers!
Eu estava passeando pelas ruas de Sintra com a minha família quando passamos em frente a um charmoso Wine Bar. Como enófila de carteirinha, não pude deixar de entrar para conhecer o ambiente e conferir os rótulos oferecidos. A casa tem uma variedade incrível de rótulos vintage de Vinhos do Porto e Madeira. No balcão, um aviso oferecia aos clientes dois tipos de degustação de Vinhos do Porto, uma de vinhos mais jovens e outra de vinhos mais envelhecidos. Além disso, a carta oferecia várias opções de vinhos em taça e garrafa.
O Sr. Carlos nos atendeu com muita cordialidade e logo começamos uma animada conversa sobre o belo portfólio da loja. Eu costumo dizer que os enófilos se reconhecem em poucos minutos de conversa e foi assim que ele me ofereceu uma degustação que não estava divulgada no balcão e nem na carta de vinhos. Pedi à minha família que continuasse o passeio por Sintra e voltasse cerca de uma hora depois para me encontrar e fiquei na companhia de quatro taças de vinhos licorosos do Porto e do Douro colheitas 1977, 1963, 1958 e 1871.
O Porto Colheita Miguels 1977 foi elaborado com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca e estagiou em barrica até 2017, ano em que foi engarrafado. Possui uma coloração âmbar claro e aromas e sabores de amêndoas, noz-moscada e mel. Um vinho elegante e com a doçura bem equilibrada pela ótima acidez.
O Quinta de S. José Colheita 1963 é classificado como Vinho Fino do Douro e foi elaborado em uma propriedade do Baixo Corgo. É um vinho de lavrador, ou seja, feito por agricultores que não possuem a licença para a produção do Vinho do Porto embora possam vender as uvas ou mesmo o vinho para produtores regulamentados. São feitos na região, com as mesmas uvas que os Vinhos do Porto e a mesma tipicidade. Um legado de família que passa de geração em geração para o consumo próprio e para a prova com os amigos e que eu tive muita sorte de ter a oportunidade de degustar. Ele estagiou até 2003 em barricas quando foi engarrafado em demi-johns, que são garrafões de 12 a 13 litros, capazes de preservar a frescura e evitar a evaporação do vinho. Com coloração âmbar claro, possui aromas e sabores de amêndoas, nozes, mel e folhas secas. No paladar se mostrou macio, com doçura agradável e boa acidez.
O Porto Valriz Colheita 1958 foi o meu favorito. Elaborado com as castas Tinta Amarela, Tinta Roriz e Touriga Naciona, estagiou por 26 anos em tonéis de madeira e foi engarrafado em 1984. Ao contrário dos anteriores, possui uma coloração castanho escuro com um halo amarelado. Seus aromas e sabores remetem à baunilha, nozes e frutas vermelhas compotadas. O que mais me encantou foi a sua untuosidade. Muito encorpado e ao mesmo tempo macio e fresco e com grande persistência de sabores. Um verdadeiro néctar!O Vinho Velho do Douro Frasqueira Particular 1871 foi elaborado pela Sociedade Agrícola dos Lavradores do Alto Douro com as castas tradicionais da região, a Touriga Nacional, a Touriga Franca, a Tinta Roriz e a Tinta Barroca. Classificado como Vinho Fino Velho do Douro possui uma coloração castanho escuro e halo amarelado. Os aromas se mostraram muito fechados em taça e foi necessária bastante aeração para que começassem a se abrir e a exibir baunilha, amêndoas e folhas secas. No paladar se mostrou muito vivo, o que me surpreendeu por se tratar de um vinho de quase 150 anos. Seus taninos estavam quase imperceptíveis e o conjunto muito elegante. Uma verdadeira preciosidade!
Para finalizar com chave de ouro, o Sr. Carlos me ofereceu uma taça do White Reserva Porto Branco Vasques de Carvalho, um blend contendo um lote de vinho oriundo do Baixo Corgo de 2012/2013, outro lote de Cima Corgo, um meio seco com 20 anos e um terceiro lote de um vinho com mais de 50 anos. Este vinho chegou ao mercado a poucos meses e ainda é encontrado em poucos lugares em Portugal. Sua coloração âmbar pálido se aproxima muito da coloração dos dois primeiros tintos degustados. Os sabores e aromas de casca de laranja cristalizada, mel, compota de ameixa e amêndoas apresentam grande persistência. É encorpado, untuoso, com a doçura bem equilibrada pela alta acidez. Não pude deixar de aproveitar a oportunidade e trazer uma garrafa pra casa.
Dentre vários aprendizados que esta incrível experiência enológica me proporcionou, não posso deixar de ressaltar a necessidade de se estar aberto para conhecer e degustar neste amplo mundo dos vinhos. A Denominação de Origem é importante e nos ajuda a identificar a tipicidade de cada região e a ter certeza de que aquele vinho respeitou regras que preservam a qualidade daquele local. Mas não podemos ignorar pequenos produtores que lavram a sua terra com as próprias mãos e produzem o seu vinho com amor e dedicação. Estas pequenas produções podem ser verdadeiros tesouros e me sinto privilegiada por ter tido a oportunidade de conhecer.O ano está acabando e as festas vão começar. Desejo a todos boas festas, muitos vinhos e um 2019 com grandes realizações. Cheers!


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