Pular para o conteúdo principal

Três dias em Champagne

   A região de Champagne é encantadora e pitoresca. A maioria das comunas são pequenas e separadas por muitos quilômetros de vinhedos. É dividida em cinco sub-regiões. Mais ao norte, ao redor das comunas de Reims e Éperney, estão O Valée de La Marne, Montagne de Reims e Côte des Blancs. Mais ao centro temos Côte de Sézanne e ao sul, Côte des Bar. As três principais castas são a Chardonnay, a Pinot Noir e a Meunier. Côte des blancs e Côte de Sézanne produzem predominantemente a Chardonnay, enquanto a Pinot Noir está mais amplamente plantada em Montagne de Reims e Côte des Bar. O Vallée de la Marne se concentrou principalmente na Meunier, casta de abrolhamento tardio, o que protege as videiras das geadas da primavera, tão comuns nesta sub-região.
   Nos hospedamos em um Domaine em Châtillon-sur -Maine, uma comuna próxima a Épernay e com uma população média de 1000 habitantes. Foi difícil encontrar a nossa hospedagem que ficava escondida no final de uma estreita estrada de terra em meio aos vinhedos e dentro do Parque Natural Regional de La Montagne de Reims. O GPS não conseguia encontrar o local e as ruas do vilarejo estavam desertas. Depois de várias voltas passando pelos mesmos lugares, acabamos despertando a curiosidade de moradores que saíram de suas casas para descobrir quem estava perturbando a tranquilidade local e nos orientaram sobre como encontrar a nossa hospedagem.
   Como nosso tempo na região era curto e tínhamos muita coisa para conhecer, nos concentramos principalmente em visitar as comunas. A única vinícola em que marcamos uma visitação foi a Pierre Gimonnet & Fils, onde fomos muito bem recebidas. Fizemos uma degustação de seis dos seus Champagnes Premier Cru e os que mais se destacaram foram o Cuveé Oenophile Non Dose Extra Brut 2012 e o Cuveé Fleuron 2010. O primeiro é um Champagne Nature, ou seja, sem adição de licor de expedição. Elaborado com 100% de Chardonnay de Côte des Blancs, sendo que 86% das uvas são provenientes de vinhas Grand Cru e 14% de vinhas Premier Cru. Passou sessenta meses em contato com as leveduras. Possui uma coloração amarelo dourado e aromas de brioche e fermento de pão. No paladar é muito expressivo, com perlage cremosa e alta acidez. Eu adoro os Natures e este é especial com a sua complexidade e equilíbrio.
   O Cuveé Fleuron me encantou ainda mais! Elaborado 100% com Chardonnay, sendo a maior parte proveniente de vinhas Grand Cru, passou 48 meses em contato com as leveduras. Seus aromas incluem brioche, tostado e amêndoas, acompanhados de notas cítricas. No paladar é encorpado, untuoso, com perlage cremosa, muita complexidade, alta acidez e um final muito persistente. Delicioso!
   Uma outra visita obrigatória quando se vai a Champagne é a Boutique Trésors - Special Club em Reims. Em 1971, foi criado o Club Trésors, uma associação de produtores de Champagne que defendem altos padrões de qualidade na elaboração dos seus espumantes. O clube é composto por 28 produtores e todos eles seguem regras rígidas de controle tanto na produção das uvas como dos vinhos. Todo o Champagne deve ser feito dentro das suas próprias instalações e apenas com uvas provenientes de vinhedos próprios. Cada Champagne está sujeito a duas provas cegas, realizada por enólogos, sendo uma do vinho tranquilo antes do engarrafamento e outra após um envelhecimento de três anos em garrafa. O Champagne Special Club só pode ser elaborado em anos de safras muito boas.
   Chegamos à Boutique Trésors quando estava começando o jogo da copa França x Peru. Famílias, jovens e idosos entravam na loja pediam um Champagne, assistiam o jogo por algum tempo e depois voltavam para seus afazeres. O lugar é lindo e aconchegante, com luminárias de garrafas por todo o teto e mesinhas porta rolhas com tampo de vidro. Nas paredes, uma série de prateleiras com os diversos Champagnes dos produtores associados em exposição. Fizemos a degustação de três rótulos do produtor Henri Goutorbe, todos muito bem elaborados. Mas o que nos chamou mais a atenção foi o Special Club Brut Grand Cru 2005. Definitivamente, estes Champagnes Vintages já com alguns anos de amadurecimento me agradam bastante! Os aromas de nozes e avelãs, associados aos aromas de panificação, além da ótima cremosidade e acidez, tornam os momentos de degustação um verdadeiro prazer!
   Ainda tivemos tempo de almoçar em um dos belos restaurantes de Reims e provar o delicioso Escargot, acompanhado, é claro, de um belo Champagne. Participamos de um festival de música que acontecia nas ruas de Épernay e, acredite se quiser, todos tomavam cerveja! Espero poder voltar nesta região maravilhosa e ficar mais tempo para aproveitar tudo o que Champagne tem para nos oferecer!
Um brinde a todos e até um próximo texto! Zum Wohl!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Outras cinco curiosidades sobre videiras, uvas e vinhos

  Conforme prometido na publicação anterior, hoje vou falar sobre mais cinco curiosidades do mundo dos vinhos. Para manter uma sequência na leitura, no texto anterior falei sobre origens e produção e hoje vou falar de curiosidades sobre as videiras, envelhecimento do vinho, degustação e benefícios da bebida dos deuses à nossa saúde.   6- Tipos de uvas próprias para a produção do vinho   Existem cerca de 1000 espécies da Vitis Vinífera, videiras que produzem uvas próprias para a produção de vinhos, mas apenas cerca de 50 espécies são mais utilizadas e difundidas pelo mundo. Entre as castas mais conhecidas podemos citar:  Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, entre outras.   Muitas são castas autóctones e são produzidas apenas na sua região de origem. Portugal, apesar do seu pequeno tamanho, é um dos países com maior número de castas autóctones, sendo contabilizadas cerca de 300 castas. Além da grande diversidade, os portugueses são muito c

Diamantina - Terra de vinhos, queijos e a famosa hospitalidade mineira.

   Recentemente, passei por belas experiências de aprendizado em vinícolas, algumas distantes e outras bem pertinho daqui. Estas viagens vão render muito assunto pra matérias aqui no Vinho às Claras. Como sou uma entusiasta dos vinhos nacionais, resolvi começar falando da última viagem, realizada a pouco mais de uma semana para uma cidade bem próxima, a apenas 296 km de Belo Horizonte, Diamantina.    A algum tempo atrás, publiquei um artigo falando sobre os vinhos de Minas e a técnica da dupla poda. Agora tive a oportunidade de visitar e ver pessoalmente o trabalho desenvolvido por vinícolas mineiras e posso afirmar que é apaixonante testemunhar o amor e o empenho envolvido na produção dos nossos vinhos.    A viagem foi organizada pelas queridas Vanessa e Eveline, criadoras da confraria feminina Luluvinhas. No último dia 03, eu e mais 18 Lulus saímos de BH para conhecer a produção de vinhos e queijos da região. No dia seguinte, tínhamos programadas visitas à Vinícola Campo Alegre, pe

Os aromas do vinho

   Todo enófilo que se preze sabe que, para se desfrutar ao máximo das sensações que o vinho pode nos proporcionar, a taça deve ser girada para a maior liberação dos aromas presentes na bebida dos Deuses. O que muitos não sabem é que estes aromas podem nos ajudar muito a identificar não apenas o tipo de uva utilizada na produção daquele vinho, como também algumas técnicas utilizadas no processo de vinificação e até mesmo a idade do vinho.    Durante a análise olfativa, podemos identificar três grupos de aromas, os primários, os secundários e os terciários. Os aromas primários são aqueles existentes no vinho que acabou de ser fermentado e podem ser próprios da uva ou originados do processo de fermentação. Em sua maioria, são aromas frutados, como as frutas cítricas, o pêssego e a maçã verde nos vinhos brancos e o morango, a ameixa e a framboesa em vinhos tintos. Em regiões muito quentes, onde a uva amadurece muito rápido, podemos sentir aromas de frutas cozidas ou secas. Algumas uvas t