Châteauneuf-du-Pape é uma das denominações de origem mais prestigiadas da França. Localizada na margem leste, na região sul do vale do Rhône, se beneficia de um tipo de solo muito específico, recoberto por pedras lisas e arredondadas, os Galets, que retêm o calor do sol e a umidade, contribuindo para o amadurecimento e a concentração de açúcares na uva.
Consagrada por seus vinhos opulentos, encorpados, com textura rica, bastante especiados e com ótimo potencial de envelhecimento, o grande número de castas permitidas pela AOC (Apellation d'Origine Contrôlée) proporciona vinhos com grande complexidade de aromas e sabores. Quando foi oficializada, em 1929, a legislação da denominação de origem permitia a utilização de 13 castas. Hoje, contando com as inúmeras variações da Grenache, principal casta da região, são contabilizadas 22 castas. Além da Grenache, que é a base da maioria dos vinhos da AOC, a Cinsault, a Syrah e a Mourvèdre representam importante papel na composição dos blends, embora alguns produtores cheguem a utilizar mais de 6 castas no corte.
Outra característica importante dos vinhos é o seu alto teor alcoólico. A AOC determina um mínimo de 12,5% mas o mais comum é encontrarmos no mercado vinhos na faixa entre 13,5 a 14, 5%. A colheita na região é toda feita de forma manual e a produção máxima não ultrapassa a 35 hectolitros por hectare. Além das regras estritas da legislação, muitos produtores optam pelo cultivo orgânico ou biodinâmico. Mas, devido à grande área cultivada, são 3200 hectares, e ao grande número de produtores, podem haver diferenças gritantes em termos de qualidade dos vinhos. Alguns sendo um verdadeiro néctar, enquanto outros se apresentam diluídos e desequilibrados. Por isto, é muito importante ter alguma informação do produtor antes de comprar, para se evitar decepções.
A AOC não foi batizada como Châteauneuf-du-Pape por acaso. E, assim como os seus vinhos, a história da região é bastante interessante. Sua produção vinícola remonta aos tempos do império romano, quando não passava de uma vila chamada Châteauneuf Calcernier, situada a 12 km a norte de Avignon. No século XIV, a França e a igreja católica entraram em sérios conflitos, sendo o rei Felipe IV excomungado pelo papa Bonifácio VIII. Após a morte de Bonifácio e do seu sucessor Bento XI, apenas oito meses após ter assumido o cargo, o conclave elegeu o arcebispo de Bordeaux Raymond Bertrand de Got. Clemente V, como passou a ser chamado, se recusou a ir para Roma e mudou a sede papal para Avignon e por lá ela permaneceu por 67 anos.
Clemente V era um grande apreciador de vinhos, mas a qualidade da produção local não atendia ao exigente paladar da corte papal. Ele foi um grande incentivador da promoção da viticultura de qualidade na região e novas cepas foram plantadas e as regulamentação começou a ser elaborada. João XXII, sucessor de Clemente, mandou construir uma fortaleza no alto da cidade e, em 1322, foi concluída a obra da residência de verão do papa, o Châteauneuf-du-Pape (na tradução, novo castelo do papa), rodeado por oliveiras e plantações de vinhedos. Na época, eram produzidos cerca de 3000 litros de vinho por ano exclusivamente para servir o papa e a seus convidados e eram chamados de "Vin du Pape".
Em 1376, após sete papados em Avignon, Gregório XI volta a sede para Roma mas a região já estava consagrada como produtora de vinhos de grande qualidade. O falecimento de Gregório, dois anos depois, levou vertentes italianas e francesas a desentendimentos, dividindo a igreja em duas sedes, o que ficou conhecido como "O Grande Cisma". O conflito da igreja só terminou em 1414 e o castelo foi abandonado e pilhado.
Em 1863, na vila de Roquemaure, situada na margem esquerda do Rhône, em frente à região de Châteauneuf-du-pape, foram plantadas as primeiras videiras contaminadas com a filoxera, inseto que dizimou as plantações da Europa no século XIX. Em 1880, existiam na região apenas 200 hectares de videiras sobreviventes.
O fim do papado em Avignon, as guerras religiosas do século XVI, a revolução francesa no final do século XVIII, a filoxera que dizimou os vinhedos e a ocupação nazista na segunda guerra mundial contribuíram para o abandono do castelo e a sua consequente pilhagem. Mas não conseguiram acabar com a produção dos excelentes vinhos da região, contribuindo para o aprimoramento das técnicas e o aumento do nível de qualidade.
Em 1929 a denominação de origem foi oficializada e, em 1937, foi instituído o símbolo das Chaves Cruzadas de São Pedro abaixo da Tiara Papal em alto relevo em todas as garrafas da região. As chaves cruzadas são símbolo do papado, chaves do reino dos céus concedidas por Jesus a São Pedro, considerado o primeiro papa.
É uma das regiões mais importantes da França e os seus vinhos vêm repletos de complexidade e de história. No Brasil, os mais econômicos custam entre 200 e 400 reais mas, os mais complexos e de produção limitada, podem atingir valores muito mais altos. Infelizmente, no nosso país, devido às altas taxas tributárias, se paga muito caro para se tomar um bom vinho.
Com toda essa história, acho que vou criar coragem e abrir um Châteauneuf-du-Pape. Afinal, todos os dias merecem ser comemorados! Uma ótima semana a todos e até uma próxima publicação. Tim tim!
Consagrada por seus vinhos opulentos, encorpados, com textura rica, bastante especiados e com ótimo potencial de envelhecimento, o grande número de castas permitidas pela AOC (Apellation d'Origine Contrôlée) proporciona vinhos com grande complexidade de aromas e sabores. Quando foi oficializada, em 1929, a legislação da denominação de origem permitia a utilização de 13 castas. Hoje, contando com as inúmeras variações da Grenache, principal casta da região, são contabilizadas 22 castas. Além da Grenache, que é a base da maioria dos vinhos da AOC, a Cinsault, a Syrah e a Mourvèdre representam importante papel na composição dos blends, embora alguns produtores cheguem a utilizar mais de 6 castas no corte.
Outra característica importante dos vinhos é o seu alto teor alcoólico. A AOC determina um mínimo de 12,5% mas o mais comum é encontrarmos no mercado vinhos na faixa entre 13,5 a 14, 5%. A colheita na região é toda feita de forma manual e a produção máxima não ultrapassa a 35 hectolitros por hectare. Além das regras estritas da legislação, muitos produtores optam pelo cultivo orgânico ou biodinâmico. Mas, devido à grande área cultivada, são 3200 hectares, e ao grande número de produtores, podem haver diferenças gritantes em termos de qualidade dos vinhos. Alguns sendo um verdadeiro néctar, enquanto outros se apresentam diluídos e desequilibrados. Por isto, é muito importante ter alguma informação do produtor antes de comprar, para se evitar decepções.
A AOC não foi batizada como Châteauneuf-du-Pape por acaso. E, assim como os seus vinhos, a história da região é bastante interessante. Sua produção vinícola remonta aos tempos do império romano, quando não passava de uma vila chamada Châteauneuf Calcernier, situada a 12 km a norte de Avignon. No século XIV, a França e a igreja católica entraram em sérios conflitos, sendo o rei Felipe IV excomungado pelo papa Bonifácio VIII. Após a morte de Bonifácio e do seu sucessor Bento XI, apenas oito meses após ter assumido o cargo, o conclave elegeu o arcebispo de Bordeaux Raymond Bertrand de Got. Clemente V, como passou a ser chamado, se recusou a ir para Roma e mudou a sede papal para Avignon e por lá ela permaneceu por 67 anos.
Clemente V era um grande apreciador de vinhos, mas a qualidade da produção local não atendia ao exigente paladar da corte papal. Ele foi um grande incentivador da promoção da viticultura de qualidade na região e novas cepas foram plantadas e as regulamentação começou a ser elaborada. João XXII, sucessor de Clemente, mandou construir uma fortaleza no alto da cidade e, em 1322, foi concluída a obra da residência de verão do papa, o Châteauneuf-du-Pape (na tradução, novo castelo do papa), rodeado por oliveiras e plantações de vinhedos. Na época, eram produzidos cerca de 3000 litros de vinho por ano exclusivamente para servir o papa e a seus convidados e eram chamados de "Vin du Pape".
Em 1376, após sete papados em Avignon, Gregório XI volta a sede para Roma mas a região já estava consagrada como produtora de vinhos de grande qualidade. O falecimento de Gregório, dois anos depois, levou vertentes italianas e francesas a desentendimentos, dividindo a igreja em duas sedes, o que ficou conhecido como "O Grande Cisma". O conflito da igreja só terminou em 1414 e o castelo foi abandonado e pilhado.
Em 1863, na vila de Roquemaure, situada na margem esquerda do Rhône, em frente à região de Châteauneuf-du-pape, foram plantadas as primeiras videiras contaminadas com a filoxera, inseto que dizimou as plantações da Europa no século XIX. Em 1880, existiam na região apenas 200 hectares de videiras sobreviventes.
O fim do papado em Avignon, as guerras religiosas do século XVI, a revolução francesa no final do século XVIII, a filoxera que dizimou os vinhedos e a ocupação nazista na segunda guerra mundial contribuíram para o abandono do castelo e a sua consequente pilhagem. Mas não conseguiram acabar com a produção dos excelentes vinhos da região, contribuindo para o aprimoramento das técnicas e o aumento do nível de qualidade.
Em 1929 a denominação de origem foi oficializada e, em 1937, foi instituído o símbolo das Chaves Cruzadas de São Pedro abaixo da Tiara Papal em alto relevo em todas as garrafas da região. As chaves cruzadas são símbolo do papado, chaves do reino dos céus concedidas por Jesus a São Pedro, considerado o primeiro papa.
É uma das regiões mais importantes da França e os seus vinhos vêm repletos de complexidade e de história. No Brasil, os mais econômicos custam entre 200 e 400 reais mas, os mais complexos e de produção limitada, podem atingir valores muito mais altos. Infelizmente, no nosso país, devido às altas taxas tributárias, se paga muito caro para se tomar um bom vinho.
Com toda essa história, acho que vou criar coragem e abrir um Châteauneuf-du-Pape. Afinal, todos os dias merecem ser comemorados! Uma ótima semana a todos e até uma próxima publicação. Tim tim!
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